Minha casa, Minha cara

Depois de serem tachadas por quase 3 décadas como cafonas, as samambaias voltaram à decoração dos espaços descolados. E deles não saem mais, garantem os arquitetos.

Cristiane Teixeira

Por: Cristiane Teixeira Fotos: Marcelo Donadussi, Atelier Aberto Arq|Haruo Mikami, Semerene Arq Interior|Rafael Renzo, VOA Arq

Quem é louco por decoração ou simplesmente começou a pesquisar sobre o assunto porque está montando a casa já notou: as tropicalíssimas samambaias estão nos projetos mais bonitos e joviais. Aparecem suspensas sob o teto, sozinhas enfeitando a mesa de jantar ou encaixadas em nichos de. E não só em ambientes residenciais, mas também em restaurantes, bares, lojas e escritórios.

São várias as razões para as samambaias terem retornado à decoração, agora com o “selo de qualidade”, digamos, conferido por quem entende um bocado do assunto. “As samambaias são volumosas, então basta um único exemplar para dar vida ao ambiente”, diz a arquiteta Clarice Semerene, do Semerene Arquitetura Interior, que se divide entre Brasília e Nova York.

Com ela concorda a também arquiteta Renata Beck, do escritório gaúcho Atelier Aberto de Arquitetura, que acrescenta mais características positivas: “São plantas que detestam sol direto, então vão bem dentro de apartamentos, desde que haja luz indireta, filtrada. Até no banheiro dão certo, porque gostam de umidade”. Outro motivo para a versatilidade é expresso pela arquiteta Marcella Greghi, do VOA Arquitetura, de São Paulo: “As samambaias são neutras, por isso entram em muitos projetos. O que acaba compondo o estilo do ambiente são os móveis e a decoração”.

As profissionais são unânimes ao destacar que a samambaia pode e deve ser combinada com outras plantas. Clarice Semenere compara: “Nos anos 70, tudo era mais rígido, então, se tinha samambaia, era só samambaia. Hoje o uso é mais flexível e vê-se a mistura com outras plantas, como a jiboia e o tostão [também conhecido como dinheiro-em-penca]”.

 “Nós gostamos muito de compor as samambaias com avencas, peperômias, jiboias, hera e lambari”, destaca Marcella, do VOA.

Na sequência, veja como a espécie foi empregada em um projeto de cada escritório de arquitetura.

#1 Acima da janela no apartamento

Projeto: Renata Beck (Atelier Aberto Arquitetura) e Gustavo Sbardelotto (Sbardelotto Arquitetura)

Para uma moradora que desejava um espaço onde reunir amigos, ler, trabalhar e cultivar plantas, o projeto indicou a abertura da sala para o segundo dormitório.

Duas bancadas de concreto foram criadas: uma compõe um banco sob a janela e, a outra, uma prateleira acima dela. E é esta prateleira o endereço principal das samambaias, cujas folhas ficam pendentes. “As samambaias entraram muito bem ali porque ficam de costas para a janela”, afirma Renata Beck, do Atelier Aberto de Arquitetura. Embaixo – no banco e no chão – foram distribuídos vasos de várias outras espécies, como espada-de-são Jorge, dracena e suculentas.

O mix de espécies, incluindo as samambaias, também se repete na estante leve desenhada para o trecho de home office. Renata explica: “Como os nichos são vazados, preserva-se a ventilação, que diminui a chance de pragas e fungos nas plantas”.

Quais os cuidados devemos ter com as samambaias? Plantá-las em vasos com boa drenagem é o principal. Ou seja: com pedrinhas, argila expandida ou cascalho no fundo do recipiente furado. Além disso, regas constantes e a retirada de folhas secas são importantes.

Elas vêm pra ficar? E o que diz Renata quando pergunto se as samambaias voltaram para ficar? “Eu não gosto de modismos, mas acredito em tendências. E uma tendência forte está no design biofílico, que promove a interação das pessoas com o verde. Ter plantas em casa traz conforto e tranquilidade, e uma planta versátil como a samambaia responde bem a isso”.

 

#2 Penduradas numa área avarandada

Projeto: Semerene Arquitetura Interior

Os pátios espanhóis, sempre repletos de plantas e vida, inspiraram Clarice Semerene, do Semerene Arquitetura Interior, no desenho da área externa do Jámon Jámon Tapas y Copas, restaurante de comida espanhola construído em Brasília. “Escolhi a samambaia porque ela é muito volumosa: com poucos vasos consigo um volume bom de vegetação. E preferi deixá-las pendentes para ter um visual mais leve. Pendurando em alturas diversas, a gente ainda consegue um ar mais casual”, diz.

Como durante o dia o bar fica fechado e pessoas circulam por ali, as samambaias suspensas não atrapalham a circulação. E aqui boa dica para quem mora em apartamento pequeno: não precisa abrir mão da samambaia – basta pendurá-la no teto!

Clarice recomenda a espécie para todo tipo de decoração. Só depende da intenção do morador. “Se for um espaço muito elegante, frio, a samambaia quebra isso e deixa mais casual. Como remete aos anos 70, combina também com ambientes retrô. E dá até uma brasilidade aos projetos.”

#3 Encaixadas na divisória de ambientes

Projeto: VOA Arquitetura

Integrar, porém não por completo. Esse era o desafio das arquitetas Beatriz Barbieri, Julia Zarouk, Marcella Greghi e Maria Pia Laloni, do VOA Arquitetura, ao projetar o escritório de uma empresa em São Paulo. “O cliente queria separar as mesas de trabalho do living, mas sem fechar totalmente com divisórias. Então desenhamos a estante com vergalhão e chapas metálicas e utilizamos as samambaias nos nichos, já que elas não precisam de luz direta. Assim o ambiente ganhou cor e vida e ficou com um ar mais descolado”, explica Marcella.

A proposta resolveu as necessidades de um espaço corporativo e funciona igualmente em casas e apartamentos. Mas não é a única forma descolada de usar as samambaias, segundo Marcela e suas sócias. “Uma dica boa é colocá-las em vasos legais. Gostamos muito de pendurá-las nos cantos dos ambientes ou fazer uma composição em estantes e prateleiras. Cada projeto pede uma forma de uso: as nossas preferidas são penduradas, em nichos ou em muros verdes”.

E qual é o seu jeito preferido?

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