Na Inglaterra, acaba de ficar pronta uma inovadora casa construída com blocos de cortiça, um material natural e sustentável
Por: Cristiane Teixeira Fotos: Magnus Dennis, David Grandorge, Alex de Rijke, Ricky Jones, Catherine Phillips
Para os ingleses que a projetaram, ela é a Cork House. Mas pode chamar de Casa de Cortiça, na língua do país que forneceu a cortiça para a obra, Portugal. A matéria-prima é a mesma das rolhas usadas em garrafas de vinho por todo o mundo. Só que, no caso da casinha de 44 m², foram empregados resíduos.
Renovável, resistente e isolante termoacústica, a cortiça esbanja qualidades. Por isso vem conquistando a atenção de quem busca tecnologias mais sustentáveis de construir. A prova é que a Cork House figura entre os seis finalistas ao prêmio anual de melhor edificação nova do Reino Unido. E, dizem, tem grandes chances de sair vencedora em 8 de outubro de 2019, quando ocorrerá a premiação concedida pelo The Royal Institute of British Architects (RIBA).
O curioso é que a cortiça, vista com um material do futuro, é uma matéria-prima natural: a casca do sobreiro, árvore que cresce na região do Mediterrâneo. Entretanto, ela só se torna o produto que conhecemos depois de ser lavada, cozida e seca.
Método de construção dispensa argamassa
“A casa cheira a floresta de cortiça”, declarou o arquiteto Dido Milne. Em parceria com Matthew Barnett Howland e Oliver Wilton, ele assina o projeto erguido em Berkshire. O local escolhido para abrigar a inovadora morada é um terreno que já conta com uma casa principal.
Com sala e cozinha integradas, quarto, banheiro e um terraço coberto, a construção compreende cinco volumes. Cada um deles é arrematado por uma pirâmide com topo de vidro, uma claraboia. Assim, os ambientes não dão a sensação de confinamento e recebem mais luz natural.
Enquanto os alicerces são de aço, a madeira cumpre papel importante no piso, em vigas nas pirâmides e em armários autoportantes. Fora isso, todo o resto – paredes e as pirâmides que formam o telhado – é cortiça. Ou melhor, 1268 blocos feitos de grânulos de cortiça comprimidos e aquecidos.
Como os blocos são leves e encaixáveis, uma peça trava a outra. Ou seja, não é necessário usar cola nem cimento para fixá-las. Além de facilitar a montagem manual – que em Berkshire foi realizada pelo próprio Matthew Howland –, essa característica permite tanto desmontar as paredes e reutilizar os blocos, como reciclá-los.
Por trás do projeto, uma boa dose de ciência
Agora que a morada está pronta, ao longo de um ano ela passará por uma avaliação pós-ocupação. Será uma oportunidade e tanto para arquitetos e engenheiros envolvidos no projeto. Eles poderão não apenas comprovar as expectativas de qualidade, mas também corrigir o que eventualmente não funcionar tão bem.
A Cork House resulta de uma pesquisa iniciada em 2014 para investigar a utilização da cortiça na construção civil. Essa pesquisa, que tem à frente Matthew Howland, une saberes e interesses do meio acadêmico e da indústria. O objetivo final é ambicioso: desenvolver um sistema construtivo sustentável e comercializável. Um sistema que dispensa a sequência de camadas de materiais típica das obras convencionais. Afinal, o bloco de cortiça é ao mesmo tempo estrutura, isolamento, superfície externa e acabamento interno.
“A Cork House é uma resposta inovadora e instigante para questões urgentes sobre os materiais com os quais construímos”, explicam os arquitetos. Eles ainda não têm como dizer o quanto a casa vai durar, mas estão otimistas. “Podemos construir uma arquitetura verdadeiramente sustentável”, afirma Howland.
2 Comentários
Olá, Diana! É uma ótima questão a se pensar, ainda mais porque nosso país tem tantos climas diferentes em cada região, não é mesmo? Como a cortiça é um ótimo material pra combater a umidade, acreditamos que funcionaria bem na maior parte do país!
Obrigada pelo comentário, Diana!
Será que no clima do Brasil daria certo?