Telhado de piaçava, paredes caiadas, portas e janelas feitas de rústicas tábuas. Esta pousada adota à risca a arquitetura típica de Caraíva
Por: Cristiane Teixeira Fotos: Patto Ramsay/Divulgação
Um lugar onde os carros não existem, as ruas são de areia e anda-se de chinelo. Onde a energia elétrica chegou há pouco mais de uma década. Esses são alguns jeitos de definir a vila de 1000 habitantes no litoral sul da Bahia.
Outro é dizer que ali o rio Caraíva encontra o mar – e o turista encontra todo tipo de praia. E também casinhas rústicas e coloridas que recebem quem só quer relaxar.
Como só se chega de barco a essa vila pesqueira, ali dentro todo o transporte é feito por carroça. É fácil deduzir, portanto, que adaptar-se é a regra para construir no local.
Mas não foi bem por isso que o casal Carol Moraes e Rodrigo Furtado pediu ao arquiteto Renato de Pieri, da Catálise Arquitetura, uma construção rústica. “A gente quis, principalmente, valorizar a cultura do lugar e o jeito artesanal de construir”, conta Rodrigo.
Técnicas construtivas resgatam o saber regional
Os telhados ora cobrem-se de telhas de barro, ora de piaçava, material tradicional em Caraíva. “Onde a cobertura é de piaçava, a gente queria uma lembrança de uma oca indígena, já que estamos no limite de uma aldeia pataxó”, explica Rodrigo. “E onde temos telhas, o teto é bem baixo, como nas casas de pescadores.”
Vidros quase não há. As paredes são de tijolos, porém levam um reboco feito manualmente, conhecido como santa fé. A pintura remete a tempos passados: à base de cal, deixa as superfícies respirarem. Assim, resistem melhor ao mofo provocado pela maresia e pelo clima úmido.
Troncos de eucalipto ancoram as paredes e os telhados, além de definirem o pergolado da varanda. Na forma de rústicas tábuas, a tatajuba compõe portas e janelas, enquanto o deck é de cumaru. Para conquistar a aparência que têm, as madeiras receberam dois tipos de tratamento. Parte delas foi envelhecida com uma mistura de cal e cimento (e depois lixada), enquanto o restante foi encerado.
“O cimento queimado é muito comum nas casas da região, por isso nós também usamos bastante”, diz Rodrigo. O material reveste todos os pisos internos e as paredes nas áreas de banho. E ainda dá acabamento a móveis de alvenaria, banheiras e bancadas, como na cozinha.
Pousada com alma de casa
O que era para ser o refúgio de fim de semana do casal e seus dois filhos acabou se transformando em um negócio. “A obra despertou tanto a curiosidade dos turistas que, no final, resolvemos fazer da Villa Fulô uma casa-hotel”, conta Rodrigo.
Transformação que foi simples, pois o projeto arquitetônico já previa uma planta dividida em três núcleos ao redor da piscina. “Os 130m² de construção não poderiam ser executados em um bloco único, seria algo desproporcional para Caraíva”, diz o arquiteto Renato de Pieri. “Não existe alinhamento entre as edificações, visando reproduzir a implantação espontânea das casas do local.”
Dessa forma, o bloco coberto de piaçava oferece duas espaçosas suítes com mezanino. O módulo com telhado de barro reúne mais duas suítes.
Já a terceira construção coordena cozinha, lavabo e área de serviço, tendo na cobertura um terraço com spa de clara inspiração na Grécia. “A gente brinca que é um terraço greco-baiano”, diz o proprietário. “É todo branco e caiado, como na Grécia, mas tem almofadas feitas por um funcionário nosso que é índio.”
Não são apenas as almofadas que revelam DNA indígena, mas quase toda a decoração, planejada por Carol. Ela foi buscar em uma comunidade próxima de Caraíva, Itaporanga, as peças artesanais pelas quais o lugar é conhecido. São de lá, por exemplo, a cestaria, as luminárias de talisca de dendê e as esteiras de palha usadas como tapete. Peças que vestem a arquitetura e trazem o aconchego desejado.
Da arquitetura para a decoração
Ah, em pleno Carnaval, tudo o que eu penso é aproveitar os últimos dias de verão e descansar. Por isso a minha seleção explora as miudezas, objetos de visual rústico que tornam a casa mais charmosa e organizada – e dão prazer de usar.