Panos de vidro e tábuas escurecidas por um processo de queima dão forma a esta casa em Melbourne, na Austrália
Por: Cristiane Teixeira Fotos: Peter Bennetts
Desde 2015, uma das fortes tendências na arquitetura é o preto. Ele comparece em materiais de acabamento externo para todo tipo de construção – residencial, comercial, cultural e corporativa –, evidenciando as linhas da fachada e a geometria do projeto. E é na madeira que o tom encontrou seu substrato mais versátil.
A explicação talvez esteja no fato de que essa matéria-prima possibilita diferentes versões de preto conforme o tratamento pelo qual passa. Quando deixada ao natural, sua superfície torna-se cinzenta, escurecendo à medida que os anos avançam. Se for pintada com tinta, pode ficar brilhante ou opaca. Caso receba stain, a aparência será outra, já que ele penetra na madeira, tingindo-a.
Finalmente, ela pode ser carbonizada e tratada com óleo, numa técnica ancestral japonesa, a Shou Sugi Ban, que aumenta a resistência do material ao fogo e a insetos. Hoje em dia, usa-se maçarico na queima, e a ela se seguem a raspagem com escova de aço e a limpeza da superfície, com água ou não. Depois o artesão aplica óleo na tábua e repete todo o processo até chegar à intensidade de cor desejada. Essa técnica – retomada recentemente na arquitetura de países como Estados Unidos, Canadá, Chile, Inglaterra, Dinamarca, Coréia do Sul e, claro, Japão – foi a opção do arquiteto australiano Anthony Clarke, do Bloxas Architecture Studio para personalizar esta casa térrea, chamada de Pavilhão do Jardim.
Construído para um casal de Melbourne, segunda cidade mais populosa da Austrália, este projeto tinha uma missão e tanto: ajudar a garantir o sono extremamente difícil do marido. “Nossa proposta tentou resolver atributos conflitantes da encomenda: o desejo de interação com a natureza e a necessidade de repouso, abertura e introspecção, luz e escuridão, sonoridade sem barulho”, explica o arquiteto.
A solução veio sob a forma de uma casa cuja fachada dos fundos curva-se suavemente, abraçando o jardim de oliveiras e limoeiros e refletindo os ruídos externos. Além do uso de forros acústicos no teto de ambientes internos, as próprias paredes externas, revestidas de madeira carbonizada, e as portas duplas formam colchões de ar que isolam o barulho. À noite, quando persianas e painéis de madeira são fechados, o quarto do morador escurece e silencia por completo, oferecendo as condições ideais para o sono.
Da arquitetura para a decoração
Fachadas revestidas de madeira carbonizada mostram-se tão em alta quanto o luxuoso mobiliário feito da mesma matéria-prima. E já há designers, como o holandês Maarten Bass, que ficaram conhecidos por suas criações enegrecidas e levemente retorcidas pelo fogo. No Brasil, se é fato que a carbonização não pegou (ainda?), também é perceptível a crescente variedade de móveis de madeira com acabamento preto.
Em geral são peças que evocam o clima urbano, a contemporaneidade e a elegância. Podem definir o estilo de uma decoração quando dispostas lado a lado ou podem ser uma presença única no ambiente, combinadas com móveis de outras cores e materiais.
Para a seleção a seguir, difícil foi limitar-me a cinco modelos, como venho fazendo. Entre tantos aparadores, mesas, bancos, escrivaninhas etc afinadíssimos com o visual da casa de Melbourne, resolvi focar em móveis para a sala de estar.
E dou uma dica sobre um dos itens que elenquei, o Rack Trapézio: aqui ele surge inteiramente preto, mas também está disponível juntando esse tom ao de madeira.
Se você gosta da ideia de misturar preto e madeira, confira a coleção Garbo. Ela é um arraso! Ver pessoalmente a Cristaleira Garbo foi o que bastou para eu me apaixonar por ela: por sua textura lisa, pela combinação quente de cores e por sua personalidade forte.
Da mesma coleção, eu também destaco a Banqueta Garbo, com altura regulável.
Numa tonalidade mais clarinha de madeira, o pínus natural, uma boa pedida é a Adega Girato, para 12 garrafas de vinho.
E como salas devem oferecer o conforto de um estofado, minha escolha recai sobre o Sofá Urbano, com laterais metálicas que lembram uma tela de galinheiro. Testei e aprovei!
Boa semana e até o próximo post!
Fonte: Dezeen