Minha Casa Minha Cara

Revestimentos de piso e de parede pertencem ao território da arquitetura ou da decoração? Ih, pergunta difícil esta, que me acompanhou durante os 20 anos em que trabalhei em revistas desses dois segmentos. E continua me acompanhando, aliás. A melhor resposta, acredito, é que tudo depende do revestimento em si. Como ele dá acabamento à estrutura, é necessário para complementar a arquitetura. Mas quando além de ter serventia técnica os azulejos e ladrilhos hidráulicos acrescentam informação visual, tornam-se elemento decorativo.

E que elemento decorativo! Se revestir e impermeabilizar superfícies fossem as únicas funções da cerâmica e dos ladrilhos, eles continuariam reservados a cozinhas, banheiros, lavanderias e áreas externas.

Mas não é o que se vê atualmente – ainda bem! São tantos os padrões, cores e formatos que esses acabamentos merecem seu lugar nos ambientes sociais e até em quartos. A prova disso está no bom uso que arquitetos e designers de interiores estão fazendo desses materiais. Basta ver os projetos que selecionei para este post, todos realizados no Brasil e na Espanha, países com tradição no emprego de azulejos e ladrilhos hidráulicos. Vem conhecer!

Ideia 1: liso na parede, bolas no chão

Foto: Nieve/Productora Audiovisual

Que combinação mais alegre o escritório Nook Architects, de Barcelona, criou para esta casa! Como a cozinha une-se à sala, a segunda portanto se beneficia dos charmosos acabamentos da área sujeita a água e gordura. Apenas a metade inferior da parede que reúne fogão, pia e bancada de trabalho leva azulejos – quadrados, lisos e de suave tom azul-turquesa. No piso, bolinhas multicoloridas estampam as peças brancas sextavadas. Os dois revestimentos harmonizam com a pintura branca e com o piso amadeirado do restante do ambiente.

Foto: Nieve/Productora Audiovisual

Ideia 2: eterno preto e branco

Foto: Joana França/Reprodução Archdaily Brasil

Coube ao morador desenhar o painel azulejado que abraça o jardim externo e a escada interna da casa. A superfície com peças em preto e branco fica ao fundo do living envidraçado, consequentemente é vista de todos os pontos da área de lazer (foto a seguir). O projeto, erguido em Brasília, foi desenvolvido pelos escritórios Esquadra Arquitetos e Yi Arquitetos.

Foto: Joana França/Reprodução Archdaily Brasil

Ideia 3: o piso vai mudando de cor

Foto: José Hevia Blach

O truque para que o revestimento passe de predominantemente vermelho a predominantemente verde, e vice-versa, está na combinação de 25 variações de um mesmo ladrilho hidráulico. O modelo triangular foi criado para seguir o formato do prédio em que fica o apartamento, em Barcelona. Endereço de férias de dois irmãos que cresceram na cidade, o apê foi reformado pelo arquiteto inglês David Kohn. A fim de diferenciar os espaços de um e de outro, Kohn valeu-se das cores no piso. O modelo foi encomendado à Mosaics Martí, fábrica que fornecia ladrilhos para Antoni Gaudí, mestre no uso de mosaicos. Além do piso, a cozinha ganhou um painel azul do mesmo material na área acima da bancada.

Foto: José Hevia Blach

Ideia 4: composição artística

Foto: Haruo Mikami

Os azulejos do modelo SQS constituem um painel em L na cozinha deste apê de 32 m² em Brasília. As peças são assinadas pelo artista plástico João Henrique, que também determinou a posição de cada uma na superfície. Assim, criou um padrão aleatório e dinâmico, tão jovial quanto o projeto de interiores do Estúdio Mova. Com fundo branco e estampa preta, os exemplares decorados harmonizam com os azulejos retangulares da outra parede.

Foto: Haruo Mikami

Ideia 5: tapetes feitos de ladrilhos

Foto: Maíra Acayaba

Enquanto os quartos cobrem-se de largas réguas de peroba-rosa de demolição, a área social leva cimento queimado. Em ambos os setores desta casa na montanha, entretanto, ladrilhos hidráulicos valorizam ainda mais o acabamento. Na suíte do casal (foto acima), compõem uma passadeira que vai da entrada do quarto ao interior do banheiro. Ali, sobem pela parede, revestindo o canto da banheira. Enquanto que, na sala integrada (abaixo), um modelo branco e cinza desenha um tapete sob a mesa de jantar. Quem assina o projeto é o arquiteto Frederico Escobar Sabella, de São Paulo.

Foto: Maíra Acayaba

Ideia 6: o diferencial está no rejunte

Foto: José Hevia Kach

Donos de uma importante fábrica de ladrilhos hidráulicos, os moradores elegeram esse material ao reformar seu apê em Barcelona. Os exemplares da Huguet, em dois tons e acompanhados de peças especiais, agora cobrem todo o chão e algumas paredes. Substituíram o piso de lajotas cerâmicas vermelhas, desgastadas por décadas de uso e em falta em vários pontos. A fim de preservar a história do imóvel, os proprietários e os profissionais do TEd’A Architects decidiram que os ladrilhos teriam os mesmos 13 x 13 cm do revestimento original. Mas não só: depois de retirados, os velhos azulejos foram limpos e triturados. Deste modo, geraram uma granilha que foi adicionada ao rejunte dos ladrilhos, polido depois de seco. Daí os pontinhos vermelhos que marcam as juntas de 1 cm, deixadas largas de propósito. Não lembra o velho e bom granilite?!