Já faz pelo menos uma década (na verdade, acho que está mais para duas) que especialistas indicam uma forte tendência de se fazer da casa um local de bem-estar. O bem-estar, porém, é vivido de diferentes formas ao longo de todo esse tempo. Ora esteve mais focado no convívio com os amigos dentro de casa – para escapar da insegurança das ruas –, ora na existência de cantinhos para meditar, fazer ioga, relaxar num ofurô etc.
Fundamental é dormir bem
Em 2019, o bem-estar dirá respeito principalmente à qualidade do sono. Seria uma resposta a pesquisas recentes que indicam o quanto noites ruins prejudicam a saúde de modo geral. Esta é a opinião da inglesa Michelle Ogundehin, especialista em design e tendências de interiores, ex-diretora da edição britânica da revista Elle Decoration.
Para desfrutar de um sono bom, as pessoas começam a investir em colchões de alto desempenho, na percepção de Michelle. E também se atentam para ter quartos silenciosos, com algum tipo de isolamento de ruídos. Janelas acústicas? Revestimentos de parede que barram parte do som? Cortinas pesadas? Tapetes altos e fofos? As escolhas dependem não só da necessidade, como do gosto e do bolso de cada um.
A ideia de bem-estar reitera uma característica dos dois últimos anos: a valorização do verde. Dentro e fora de casa, as plantas se tornam mais relevantes – mas não somente pela estética. Em vez de ornamentação, o que se busca é a melhoria da qualidade do ar e o cultivo de vegetais para consumo próprio. Podem ser tanto os temperos em vasos, como as frutíferas no quintal e as hortaliças plantadas em jardineiras de apartamentos.
Texturas e materiais naturais x telas de eletrônicos
Somos todos seres que precisam do toque, de sentir as coisas com o corpo e com as mãos. Mas, em tempos de tecnologia digital, o que nossos dedos mais sentem é a tela lisa e inerte de smartphones, tablets etc. A solução para essa desarmonia passa, no entender de Michelle, pela revalorização de tudo o que tem textura.
Ou seja, enquanto entram em baixa as estampas digitalizadas – que fazem sucesso há alguns anos em tecidos, porcelanatos e revestimentos de parede, por exemplo –, se agigantam os bordados, os tricôs, os painéis de cortiça, os revestimentos de bambu etc.
Acabamentos que escondem a ação do tempo, como os vernizes lustrosos, perdem espaço para materiais naturais, que se orgulham de sua idade. Um exemplo seria o latão que, enquanto envelhece, embeleza-se pela pátina. Outros seriam os contraplacados encerados, a madeira carbonizada japonesa, a cerâmica, a porcelana, as pedras.
Nada mais lógico, portanto, que matérias-primas rústicas, encaradas até agora com um certo desprezo, conquistem os corações dos designers. É o caso do ratã (como a Poltrona Lua), da juta, do sisal e do cânhamo, indissociáveis de sua textura. Além de oferecerem novas perspectivas de criação, essas fibras atendem a um forte apelo por sustentabilidade.
A gente gosta do que é familiar
O sentimento de nostalgia está presente e, com ele, o veludo volta à cena. Pudera! O tecido tem textura e, ao mesmo tempo, um toque macio que se reconhece facilmente. Vem em tons levemente retrô de pêssego, rosa pálido e pistache.
E por falar em tonalidades, para a especialista inglesa, não é possível escolher uma cor única que represente 2019. E ela não seria nem o coral vívido (Living Coral) da Pantone nem o mel-escuro (Spiced Honey) da Coral. Para Michelle, se for para arriscar um palpite, ela fica com um tom picante de mostarda. Seria uma forma de conciliar a ideia de uma nuance mais viva e outra neutra.
No mobiliário, a nostalgia sugere a reedição de clássicos do design, atualizados por materiais rústicos, quem sabe. O que Michelle tem como certo é que não há muito espaço para o plástico no ambiente doméstico – nem na cozinha, onde o vidro retoma seu posto.
Questão de estilo. Ou estilo em questão
Nas redes sociais, principalmente Instagram e Pinterest, decorações de estilo escandinavo sobressaem. São lindas e elegantes, minimalistas nas cores (preto, branco e madeira, com uma pontinha de cinza), nas texturas e na quantidade de elementos. Mas também têm uma frieza que não combina muito com as tendências apontadas por Michelle.
Talvez por isso ela afirme que o estilo continuará dono das preferências, porém numa versão nova, o escandinavo suave. O quarteto preto, branco, madeira e cinza permaneceria, agora temperado por pitadas de cor pálida. E abarcaria uma certa dose de textura na forma de móveis e acabamentos de compensado, vime e juta, além de cortinas de cânhamo e paredes de cortiça. A intenção, segundo a consultora, seria tornar o visual amigável e o espaço mais habitável. Ou seja, mais real.
