Minha casa, Minha cara

Viver bem dentro de um container

Eles vêm mais completos que os apartamentos entregues por construtoras, pois já incluem revestimentos de piso e parede. Por R$ 40 mil, uma pessoa leva um container preparado para ser uma casa, ou seja, com isolamento termoacústico, instalações elétricas e hidráulicas, forro de gesso, janelas de alumínio e porta de correr envidraçada.

Se preferir, pode investir mais R$ 15 mil e receber também a marcenaria sob medida de quarto, banheiro, lavanderia, cozinha e sala. Aí, é só completar com o restante dos móveis e da decoração a fim de ter um lar para chamar de seu. Um lar ou uma casa de veraneio ou um escritório ou uma loja… Cada um faz o uso que quer do próprio imóvel.

Mas seria um imóvel ou uma casa móvel? Afinal de contas, é possível transportar a casa container prontinha de um lugar para outro e só conectá-la às redes elétrica, hidráulica e de esgoto para vê-la funcionando do novo endereço.

Esse jeito de “construir” e de viver vem conquistando adeptos em todo o mundo e o Brasil não deixa por menos. Entre os que apostam na solução estão a arquiteta Cris Dilly e sua sócia Frantieli Andreetta, da Inovare Container, empresa que concebeu o projeto apresentado neste post. Conquistou tantas pessoas que a até a Meu Móvel de Madeira já fez a sua casa container: a MMM 404.

Elas montaram em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, um pequeno condomínio com quatro unidades residenciais, duas no térreo e outras duas no andar de cima. E, adotando a mesma lógica dos apartamentos decorados, decoraram uma das unidades para que os interessados tenham a noção exata de como o container pode se transformar em uma casa pequena tão confortável quanto outra qualquer. Aliás, não precisa nem ser uma casa pequena, pois é possível emendar mais containers e criar um endereço mais espaçoso.

Como decorar um espaço pequeno

Se é para ser uma planta compacta, alguns requisitos devem ser atendidos. “A cabeceira da cama precisa ficar encostada em uma das pontas do container para garantir uma melhor circulação de modo geral”, explica Cris Dilly. Um guarda-roupa ocupou a área aos pés da cama, entre a porta e a parede da janela. “Poderia ser um móvel comprado pronto, mas preferi mandar fazê-lo para aproveitar o máximo do pé-direito, que ficou com 2,60 m.”

Na sequência, foi alocado o banheiro, que tem uma janela e as dimensões mínimas determinadas pela legislação local, 1,20 x 2,40 m.

A lavanderia é daquelas escondidas: abrindo-se uma porta-camarão, surgem uma bancada de granito com tanque embutido e um charmoso adesivo vinílico que reproduz com perfeição um painel de azulejos bem coloridos. O espaço ainda comporta uma máquina lava e seca e um nicho para utensílios e produtos de limpeza.

O restante da área divide-se entre cozinha e sala integradas, com uma geladeira comum (ou seja, não é um frigobar), cooktop, vãos para forno elétrico e micro-ondas, bancada sob a janela, armários de compensado naval com portas de MDF colorido, rack e painel para a TV.

Esse painel, bem como a cabeceira no quarto, é de OSB, material também empregado na mesa para duas pessoas que Cris desenhou. Para completar, faltava o sofá: “Ele precisava ser de dois lugares, comum nas lojas. Difícil foi encontrar um modelo de dois lugares com 80 cm de profundidade contra os 90 cm habituais. Sendo mais compacto, o estofado permitiu deixar uma distância confortável de 1,42 m até a TV”, conta.

Antes de decorar foi preciso…

As moças foram até o Porto de Itajaí, no estado vizinho de Santa Catarina, para encomendar os quatro containers de 40 pés do tipo HC. Traduzindo: exemplares de 2,44 x 12 m, com 2,89 m de altura. “Depois de uns oito ou dez anos de travessias oceânicas, eles são descartados. Transformá-los em casas é uma ótima ideia pois damos um novo uso a estruturas que ainda têm uma longa vida pela frente e seriam inutilizadas”, afirma Cris.

A metamorfose impressiona pela qualidade do acabamento. Externamente, os containers de aço corten são pintados com tinta automotiva ou industrial – neste caso, no belo tom Verde Scania –, mas não sem antes passar por uma etapa de eliminação de pontinhos de ferrugem (o que também é feito pelo lado de dentro).

Depois de receberem montantes metálicos, conduítes para fiação, dutos de água e isolamento termoacústico, as paredes são revestidas internamente de gesso acartonado – o chamado drywall –, inclusive na área do chuveiro, onde utiliza-se a versão resistente à água. Por cima, o acabamento é tradicional: massa e pintura ou massa e azulejo.

Instalado sobre a base de compensado naval original do container, o piso leva réguas coladas de revestimento vinílico, que tem uma temperatura agradável e suporta respingos d’água na cozinha. Já no banheiro, é de cerâmica, aplicado sobre manta asfáltica impermeabilizante. Igualzinho ao que é feito em uma casa de alvenaria…

Que tal, curtiu a ideia? Me conta: você gostaria de ter uma casa container?

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