Quer passar um fim de semana ou até umas férias curtas na casa conhecida como Secular Retreat? Então é bom se planejar logo, pois já não há mais vagas para 2019. Desde que inaugurou meses atrás, o refúgio em uma colina no condado inglês de Devon está sempre cheio. A princípio, a paisagem é irresistível, contudo ela beira o deslumbramento quando enquadrada pelas janelas da casa de 375 m². É por isso que eu aposto na assinatura de Peter Zumthor como sendo o maior atrativo para os hóspedes. E eles não estão errados! Já imaginou viver alguns dias entre as quatro paredes projetadas por um ganhador do prêmio Pritzker? (Lá se vai uma década desde que o suíço arrematou o chamado Oscar da arquitetura.)
Foi nisso que o filósofo Alain de Botton pensou quando lançou, em 2006, a Living Architecture, uma empresa sem fins lucrativos. Seu propósito era contratar arquitetos internacionalmente renomados para criar casas no Reino Unido que são alugadas por temporada. E assim foi feito, tornando a arquitetura contemporânea acessível a mais pessoas. Para o filósofo, só dessa forma é possível perceber como a boa arquitetura pode contribuir para a felicidade. O projeto de Zumthor foi um dos primeiros encomendados, mas o oitavo e último a ser concluído.
Padrão? Só o próprio
Morar em uma casa que prima pelo desenho e que foi minuciosamente planejada e construída visando ao bem-estar é uma experiência rara até quando se tem dinheiro para encomendar um projeto a Zumthor. Isso porque o suíço de 76 anos não conta com muitas casas no currículo, preferindo grandes obras. Talvez porque nessas lhe seja permitido despender anos aperfeiçoando o traço e a execução, em boa parte artesanal. “Eu tenho esse conceito – eu produzo originais”, disse o arquiteto em uma entrevista recente. “Meu trabalho é sempre o meu trabalho, não o de meus colaboradores. Não sou uma marca registrada, sempre produzo um original.” Como resultado, nascem ícones como as saunas do hotel spa Termas de Vals, na Suíça.
Motivos não faltam para que o Secular Retreat se some à lista de obras emblemáticas. Aliás, já recebeu sua primeira distinção, sendo um dos 54 vencedores da edição 2019 do RIBA National Awards. A premiação, concedida anualmente pelo Royal Institute of British Architects, vale para projetos realizados no Reino Unido.
Paredes de concreto foram feitas manualmente
O formato horizontal da casa foi talhado para emoldurar as vistas em todas as direções. E nada como usufruí-las das poltronas cuidadosamente dispostas na sala envidraçada. Dali observam-se as nuvens a se deslocar acima do vale bem como o sol a se pôr. Enquanto as áreas sociais preenchem um grande espaço central com 4 metros de altura, cinco suítes ocupam as laterais.
A laje que cobre a construção parece flutuar acima das colunas de concreto armado. São igualmente de concreto as espessas paredes. De concreto batido à mão e lançado camada por camada, uma por dia, em rústicas formas de madeira. Como consequência de técnica tão artesanal, as superfícies apresentam listras. Os pisos ora são de madeira, como nos quartos, ora de pedra calcária – nos espaços de convívio. E também essa pedra deu trabalho, pois havia um padrão personalizado a ser seguido.
Filho de marceneiro, Zumthor conhece bem as madeiras e desenhou muitos dos móveis que compõem os ambientes. São dele, por exemplo, as poltronas roxas e a longa mesa de jantar de uso compartilhado pelos hóspedes.
“São cada vez mais raros os momentos em que podemos nos sentar em uma casa e observar uma bela paisagem. Um panorama no qual não há traço de outro edifício interrompendo as linhas sinuosas das colinas no horizonte”, declarou o arquiteto. “Não pude resistir ao convite para projetar esta casa.”